Páginas

domingo, 11 de dezembro de 2011

por Sabrina Telles

Areia e céu

Quando não há mais o mesmo, o mundo se rompe e assusta os que não esperam por tanto. É uma estranha descoberta chegar a um estado em que os pensamentos de sempre se evaporam e a mente esvazia completamente, meio que se adaptando ao que nem sabe ainda o que será. Até tentei me valer dos mesmos assuntos, até mesmo na tentativa de analisá-los com mais clareza, já que estava ali, já que não tinha chuva. Mas nem pude. Estava me moldando ao não pensar e não encontrava  forma de controle. À minha frente, areia, céu e algo de planta e de animal.

Decidi, então, mecanizar: peguei a máquina pra guardar o máximo do momento. Não conseguia captar o que meus olhos viam e ia me frustando. Ia tentando e tentando e dizendo que seria impossível, mas não deixava de tentar. Não dei muito ouvidos a mim mesma, talvez se outra pessoa me dissesse.  Uma cena cômica, escrevo sem vergonha. Agora, coleciono várias fotos quase iguais (com uma diferença de ângulo imperceptível à primeira vista) que servem só pra provar o que estou lhe dizendo. Tenho algumas muito poucas diferentes. Posso até mostrar (nem eu, nem a máquina somos tão boas. Mas somos nós mesmas):





O vento fazia esfriar diferente de outras formas de ventos de outros lugares. Não era fio, era todo e profundo e eu queria sentir até não poder mais. Do amarelo, só se percebia alguma luz e o azul claro do céu. Eu permanecia no superficial. Ou seria o contrário? Fui tão a fundo que não encontrei nada e pude respirar por mim?

O silêncio interior se expandia, mas não acompanhava a desnecessária chuva de palavras que minha boca insistia em derramar - tão significativas que mal lembro delas. Outro pedaço cômico. Mas sei, de certa forma, que, se assim não fosse, se não falasse algo, qualquer coisa, não experimentaria o não sentir, o não pensar. Ainda não existo, nem por um momento, sem palavras - em silêncio completo. E também não podia existir nada daquilo.

Só cheguei aos pensamentos reais das palavras de sempre, depois, quando fui praticamente obrigada a me entregar à necessidade de dormir.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

por Sabrina Telles

Ou tudo isso é saudade
(... ouvindo Adele)

Por que o aleatório não se diferencia e segue a ordem exata dos sons e das coisas? Nunca imaginei tão querendo isso como ontem a noite. Não ocorreu nada de extraordinário, quero dizer, nenhum evento exterior a mim. Estou inclusive me sentindo repetitiva, até mesmo cansada. Mesmo com as novas decisões, há coisas que não mudam. - Ó, que ótimo, tão autêntica. - Tá, não me sinto assim, ou talvez me sinta, mas não quero mais. Não desse jeito, não sem você.
(Era mais simples a ordem de tudo quando eu era sem você. Era mais simples e era menos eu.)

Hoje, talvez felizmente só hoje, quero indiferenciar algumas coisas. Que sejam as mesmas por um tempo pra que eu viva, um pouco, sem muita sede. O mesmo e o diferente são a mesma coisa, só muda, no máximo, de perspectiva?! Ah! Nem vou desenvolver isso! Não sei, não quero essa engenharia de palavras, essa lógica. Complexidade todo tempo, mesmo sabendo que não sou tanto, cansa.

Agora, se as janelas estivessem abertas, a noite já teria dado um descanso à minha mente. Meu corpo precisa ser convencido a levantar e não é simples e não é fácil: é saudade. Será...? Bom... Se ela não for tão grande assim, se for menos que issopela intensidade como está se dando, se sendo, já deve ter mudado de nome.

PS: É mais fácil encarar a própria sombra no chão, do que olhar-se no espelho, mas não posso esquecer: "Cabeça erguida, jovem, o mundo é agora".

sábado, 12 de novembro de 2011

por Sabrina Telles

Agora, simplesmente não me nego

Minhas pernas tremem, minhas mãos se inquietam, estou além do meu lugar físico. A ansiedade contida não respeita mais os espaços recortados pelo que considerava como sensato. Relativiza-se o sensato para dar lugar ao intenso. Desarma-se do medo para uma entrega mais líquida. Agora te questiono, Como certas ações que exigem um grau de coragem tão absurdo podem te fazer tão frágil?

Estou tão próxima de mim mesma. Consigo acreditar que estou querendo menos do que posso, como se fosse um desperdício de existência essa inércia que aceitei como inevitável. Aceitei, confesso, por tempo suficiente para que eu visse que não mais valia a pena. Minhas noites e algumas manhãs vêm me dizendo que é preciso descansar dessa barreira posta pela preguiça de não ser. Porque só pode ser algum tipo de preguiça. E que já não é mais necessária, e que já nem incomoda mais. 

Apesar até mesmo de sentir em certos momentos, não foi retrocesso; eu não me abandonei (muito menos, inutilmente), isso seria absurdo impossível. E, só pra que eu mesma entenda, "nem foi tempo perdidooo. Somos tão jovens, tão joooovens"[pausa para terminar de cantar mentalmente a música]

Não, ainda não encontrei a pedra filosofal, não sintetizei nenhuma nada, não provei nada diferente, não estou vivendo um momento de clareza absoluta como se a chuva tivesse dado uma tregua mais prolongada, também não é nada definitivo - até porque a responsabilidade do definitivo é mais do que meu corpo pode aguentar. Estou simplesmente desatando um primeiro nó. Agora, só tenho que ficar em dias, tenho que ir, em velocidade compatível, me traçando como eu sempre quis. 

Ser mais e melhor em vários e vários e vários novos sentidos. 

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

by Sabrina Telles

Anyway, I need a new way


There's a strong feeling when I tell myself "I have to write things down". Feels like my throat simply closes and I get hungry for something I don't even know what it is - and I love myself more. Clearly it's bigger than my body, because I can barely handle it. And here I am again: the same vulnerability, the same why-and-what-for questions, the same still-haven't-found-what-I'm-looking-for trials. Maybe these are the best thing about life: the unswerable concerns. Maybe, just maybe...

Somehow I'm seeing through new glasses (or trying to believe in that). Like I said before, my feet in others solid grounds are helping.

(The intensity of you in me doesn't remain the same, been taking thoughts and words - like these -, almost unsustainable. Is it Love? Don't know anymore. Time and distance haven't been enough to explain. Doesn't matter anymore.)

These days I'm fighting completely disarmed, without escape valves - like never before. Honestly, I'm a little scared. I have to deal directly with biggest and deepest things now. I have to dare myself, to encourage myself. (I'm sounding like a self-help book, I know, I know... but I can't run away from the right now truth. At least, not here.) The necessity of reaching unknowing levels wants to know why I don't let it scream, why it's takin so long. I think it's because I don't know why. Just really need to figure me all out one more time.

So it's decided: Although it's hard to materialize lifetime desires, to bring life to projects, I'm not giving a break, I can't wait for me any longer. The most obvious and inescapable logic of today. Here I am, here I go again.

domingo, 6 de novembro de 2011

 por Patrícia Soares


O que tenho a nos me dizer



Às vezes
apenas
não se sabe o que dizer, 
não se sabe o que fazer.
Escrever
nem sempre
é uma opção.
Olhar assusta.
O não olhar nos atrai
fortemente. 
O tempo
como o vento
traz a sensação
de leveza
e bem estar
Por um momento
satisfaz e alimenta
o que está vazio.
Nada se vê,
porém
Pára e deixa
a ilusão do cheio
A imensidão do nada
então
é percebida.
O olhar volta a se encontrar.
Segundos
de lembranças
enche-se novamente.
E um pequeno furo
esvazia.

sábado, 22 de outubro de 2011

por Sabrina Telles

As palavras que tenho hoje

Meus pés estão me ensinando a quebrar o silêncio. Ensinando o que eles estão aprendendo com o experimentar de novos arranjos, de novos desenhos de pedras, com o passar dos dias.
"... Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia."

Enquanto aprendo, não te sinto menos - como pensei que fosse acontecer. A saudade mora na impossibilidade do tempo parar agora e eu não poder te ver, na impossibilidade de que algo se desencontrasse e eu ainda não te conhecesse, mora na melancolia das vozes deste lado que me desconcerta as vezes. (Deste lado, eles falam como se pedissem desculpas sempre. Talvez por terem visto a dificuldade da nossa (re)criação, pensam que nos deve vida. A naturalidade das desculpas e sua coerência têm a mesma proporção, Mas nos tornamos tão sólidos no fim das contas que elas são quase desnecessárias.)

Com esse hábito de encontrar causa e efeito pra tudo que se percebe, eu insisto em pensar em porquês de sentir - como se melhorasse as coisas, como se me eximisse de certas responsabilidades.
"... esqueci-me de me deixar lá em casa,
Trouxe comigo o espinho essencial de ser consciente"

Parece que, se se dissolve e se como oxigênio paira, o mundo cabe em mim. E como em poucas vezes eu não quero o mundo, da mesma forma como o rio não pertence ao vento, da mesma forma como você não deveria estar aqui, da mesma forma como o mar não toca o sol, da mesma forma como o cansaço demais não nos permite dormir: com uma certeza que só é certa pra não sofrer com a impossibilidade.

Se sentimentos fossem todos sempre pertinentes, não existiria poesia. Ah! se eu puder sentir além...

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

por Sabrina Telles

Momento bobo de vírgulas e interrogações
que não posso ignorar

Dois dias e meio atrás, como se fosse díficil pertencer a meu próprio corpo, eu flutuava passo a passo de volta pra casa, em um estado pós Clarice de existir, em que até do tempo já tinha perdido a noção, só sabia que era noite e que era eu. Quando passei como uma a mais no meio de todos os outros uns a mais, ligeiramente com fome, carregando o peso do jeans, distraída em pensamentos, meus pés se retardaram... os ruídos se calaram... as cores se vangoghizaram...
                                                                    Você, sentado, calado, encostado na janela do carro, eu vi o cansaço. Era mesmo você? Eu passei sem poder ter certeza, sem poder impedir que me reconhecesse, sem poder evitar minha vulnerabilidade, já fazia tanto tempo que tinha te esquecido em mim, mas estava lá e eu sabia. Era mesmo você? Talvez, a anestesia de ter lido certas palavras certas tenha te inventado em alguns segundos. Talvez, simplesmente, a necessidade de me ver através de olhos que não são meus tenha me emprestado um objeto pra direcionar minhas sensações naqueles segundos, que eram tão enormes que não cabiam em mim. A verdade é que, mesmo com a distância, mesmo sem tanta intensidade mais, nunca consegui apagar suas reticências. Era mesmo você?

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

por Sabrina Telles

De novo, amanhã
(Retrato de um final de dia)

- para Livinha e Pathy -

O céu escurece conduzindo as palavras de um dia a mais. E os sons se misturam às luzes que aparecem uma a uma - e às estrelas. Tudo vai sinalizando e a preocupação do céu é soprar para amenizar o cansaço. Enquanto venta uns fios frios, o laranja vai sumindo. Tudo mais uma vez.

Tudo passa, e anda, e corre, e voa como se uma força autônoma tivesse criado engrenagem em estrelas, em nuvens, em carros, em luzes. Até seu corpo não é mais seu, se anestesiou com o dia. O peso e o prazer são igualmente partes do dever de viver em si. "Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é".

A beleza não é mais dos olhos ou está nas mãos. Não lembra nem que beleza existe, o movimento é padrão. Enquanto venta uns fios frios, enxuga-se a dor de não poder escolher o que constrói de si. Aguenta mais um pouco, tá? Faltam apenas alguns passos. Não se preocupe!

Depois de ter o mundo deitado em sua cabeça, tira o pano enrolado em forma de círculo que não o deixou desequilibrar. Tira o pano, tira o lenço e descalça os pés já descalços: alívio. Experimenta o amor. (Quem será que ama mais? Quem luta pra se conformar, ou quem nem sabe que há conformidade e só luta? Quem chora mais? Quem é que sonha mais? Eu não sei, eu mal conheço o mundo.)

E mais tarde... Ah, amanhã... De novo, as luzes se apagam e as cores reacendem com a mesma intensidade. Uma coragem se espalha por todo corpo silencioso, obediente. É uma "força que nunca seca". Cria-se o mundo, monta-o de novo equilibrado no pano enrolado sobre a cabeça e sai.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

por Sabrina Telles (feat. Anandrielle Bárbara)

Feito combustível

Você não é um rosto
Não é um corpo
Não é papel
Não é líquido
Você não faz sentido
.
Minhas palavras já não mais conseguem
não com a naturalidade que merecem
por serem palavras
de outra forma
ser ditas,
Então agora
eu declaro
com a mais pura clareza
do que não é poesia
do que é translúcido
do que parece silêncio,
Sentindo sinceramente
meus dedos trêmidos
e intensos
se articulando
se mostrando.
Eu expresso
:
Tem uma força em mim que
não sou eu que
não é minha e que
me move
(pra um lugar muito além da imaginação)
...
Você existe !

quinta-feira, 21 de julho de 2011

por Sabrina Telles

Respirar e inspirar-se
(ao som do Songs In A Minor)
Olhar é o que há de mais incrível. Sentir através de olhos que são os nossos, mas estão em outros. E me transporto como se pudesse estar respirando daquele corpo e, em segundos, vivo toda sua história: Suas dores, suas delícias, suas verdades. Em um processo criativo instantâneo, experimento cada todo e sigo atravessando o olhar com as ruas.
Ouço o ar.
E vem a vontade de imprimir em mim a marca de tudo, gastar meu eu um pouco pra sobrar espaço pra algo maior. Uma fome incontrolável de absorver, de internalizar, de ser tudo que olho.
Respiro os passos.
O que restou já era suficiente, mas me redimensionei e, diante do que vejo, sou tão pequena. Surge então a vontade mais profunda de mudar por simplesmente não querer mais o que sou, nem o que doo. Sou eu, o mundo e as possibilidades de ser. Tudo é inspiração. Quero ser enorme. Quero que tudo que vejo seja eu.
E continuo andando.
De repente, me surpreendo com você em mim. Lembrar você interrompe meu momento e reparte minha atenção e minha vontade de estar em tudo com a ilusão de que só você me basta. Tento logo recompor meus pensamentos e minha mente se expande absurdamente, embaralhando-se. Agora quero você, a rua, os passos, o ar, tudo, tudo, tudo, tudo, tudo...

Ah, se eu pudesse eu olharia e simplesmente olharia o resto dos tempos.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

por Sabrina Telles

Meio sem você, meio sem me saber ao certo

Passei horas olhando para o nada tentando lhe encontrar. Preenchendo o vazio do cenário que você fitava com meus pensamentos. Eu já deveria saber que você não se encontra no vazio, que você não vai entrar por essa porta, nem ao menos passar por essa rua. Sinto-me até incomodada com esses desejos. A verdade não se mostra. Ela implicita em tudo que existe. Tudo que queremos ou podemos existir. Ela não se mostra para que saiba por onde vê-la, onde encontrá-la ao certo. Não é no vazio, não é no nada e (pior!) não é em você. Então, volto a mim mesma. Volto porque, talvez, seja o "sítio que me espera".
_____________________________________
(Rascunho de 13 de dezembro de 2010. Acrescentei só um título, resolvi deixar do jeito que tava. Mudei tanto desde lá... mais do que imaginava.)

quarta-feira, 13 de julho de 2011

por Sabrina Telles

Único compromisso: sentir

O vento atravessa  a moldura envidraçada no meio da parede amarela. Quando apenas o reconhecer - sem mais -, estará assegurado que não existiu saudade. Mas não dá... quando lembram da sua existência, os olhos parecem um letreiro verde, numa rua toda escura, piscando e marcando o caminho. Basta a lembrança...

O céu tem uma mancha horizontal meio rosa, meio laranja, meio sem jeito, meio sem forma. Acho que estavam pintando de uma altura e deixaram o pincel cair no azul. Ficou lindo esse improviso escorregado, pensou. Mas logo voltou a lembrar de si, lembrar de todas as coisas inegáveis que tenta disfarçar.

A vontade é de não se perder no medo de não conseguir mais ser completamente. E, por isso, continua negando como se palavras fossem recados pela sua forma e não matéria. Porque literalmente não dizia, não se traduzia essencialmente de forma sincera nem a ela mesma.

É um jogo bem desnecessário esse... confessemos. Mas é assim, mesmo... nem sempre nos dizemos a verdade. Sinceramente, não precisamos do compromisso com a verdade todo dia, não. Não se preocupe, eu nos permito essa digressão por um momento.

Só os olhos não conseguem se desviar. Só eles se traduzem sábios, independentemente, feito poesia. Os meus são incontroláveis, amam com tanto exagero que quase cansa.  Os olhos são aviso, são letreiro, não lembram de fingir.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

por Sabrina Telles

Sem ter que preferir o quente ou o frio

Estou sentindo o ser e o não-ser com uma intensidade que nunca tinha sido. Nunca foi tão um no outro e nunca foi tão claro vê-los nessa fusão. Percebo não mais a necessidade da escolha entre ser e não ser, mas sim a descoberta de ambos em meio às infinitas possibilidades.

Talvez isso seja clichê pra você, talvez já tenha isso em você a mais tempo; mas, em mim, está se traduzindo agora, como quando procuramos por um tempo, na estante, o livro maior, que está bem no meio, com as letras maiores. Não tinha visto. Simplesmente não vi.

E se fosse possível avançar, ver o livro logo de cara, se fosse possível ouvir o que seria cantado mais tarde? Devo lhe lembrar que nossas previsões estão cada vez mais precisas e nem por isso mudamos. Experimentamos sempre continuar para ver se vai dar naquilo mesmo. E devo dizer mais: quase sempre acertamos e quase sempre ocorre a incansável troca para a segunda ou terceira pessoa, como se a primeira pessoa fosse isenta de toda a responsabilidade: Por que não fizeram nada?

Pois é... Não adianta previsões, esqueça isso, não vai mudar muita coisa, não. Não concretamente. Infelizmente digo que vou continuar prevendo, porque não me excluo de vocês. Nós vamos continuar e continuar seja talvez o único o motivo predefinido da nossa existência.

Não, não estou hasteando a bandeirinha da inércia. Não estou excluindo eu mesma e todo o meu antes. Estou me incluindo em algo maior que eu. Estou apenas vendo finalmente o livro que estava procurando e querem saber? Esse finalmente não é tão válido. Nessa procura, vi outros livros igualmente interessantes. Gostei do que achei, mas também de outros.

Isso não significa que a busca por ele carrega em si tempo perdido, pelo contrário: Agora, percebo os outros, as outras possibilidades. Percebo que ser e não-ser são partes da mesma procura. Agora, vou apenas provando o quente e o frio,  as vezes na mesma proporção, as vezes não. Sem pré preferir, sem pré aprovar, sem pré conceitos.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

por Sabrina Telles

Sobre eu mesma outra pessoa

O que estava por perto se contaminou pelo mesmo ar volátil de superioridade. E, diferente da regra, se evaporou voltando ao antes. Antes não é a inferioridade. Antes é a não vontade de ser mais, de expansão, é o não sentimento de ebulição, é o não dramático. Não havia nada que se condensasse quando era antes, não havia nada que se expandisse. Não havia guia, não segurava as próprias rédeas, o mundo era de outro. Alguém que assistia conduzia da forma mais conveniente; alguém que escrevia monopolizava o roteiro. E assim se encontrava sem montaria e sem palavras; sendo outra. Não era toda, era apenas uma parte.

E, agora, o que é se orgulha de o ser. (O ar não tem mais a superioridade volátil, que às vezes contaminava, nem é mais como era antes). Agora percebe-se com um novo olhar para que não haja espanto quanto às próprias formas de agir, para que as próprias sensações não sejam tão asssutadoras. Ao mesmo tempo, há uma tentativa persistente de valorizar o surpreendente. Sente-se inteira para que possa sentir a tudo sem máscaras, sem restrições inúteis. As possibilidades são novas possibilidades que se ramificam em mais e mais possibilidades. (Mas isso é bom? Talvez... o que acha? Eu acho que sim. Pelo menos, é útil à felicidade. Então deixa assim mesmo.)

E depois? Depois, haverá o mundo rendido aos pés. O alcance será do mesmo tamanho da experiência, da quantidade de coisas vividas: um livo de memórias com crônicas e novelas e contos escrito pelas próprias mãos e pelos próprios olhos. Depois, o retorno será inevitável e se romperá a própria compreensão de que a história é o passado, porque o instantâneo e a vida serão cúmplices. Sentirá o prazer de ter sempre existido da forma como existiu, como se renovou, como se debruçou sobre seu eu. Depois será tudo em si mesma e perceberá que assim sempre foi, e, simplesmente, não sabia.

terça-feira, 3 de maio de 2011

por Patrícia Soares

 
Por não sermos tartarugas
nem sermos outros senão humanos

O que busca? A felicidade? E essa emerge da vivência ou da sobrevivência? Todas as noites, colocamos nossa cabeça sobre nossos sonhos e desejos. Pensamentos que nos movem e nos faz levantar cedo antes mesmo do sol nos ver.
O homem só precisa daquilo que ele pode carregar? O homem precisa ser. O homem precisa apenas ser. De vez 'enquando' nos enchemos de esperança e sorrimos. Criamos divindades. De vez 'enquando' nos fechamos para o mundo e sua complexidade, e sua falta de vida. Nos prendemos dentro de falsas cores, falsas visões, falso calor.
Em que devemos acreditar? O que devemos amar? Nosso controle sobre a verdade [nós mesmos] é um frágil fio. Que liga o consciente ao inconsciente. Mas não sabemos reger o fio. Se Beethoven regesse o fio acredito que não o manipularia a favor da surdez. Não sabemos mover o fio. Não temos que saber. Não podemos saber. Sobrevivemos com o que controlamos. Mas é com ausência de controle que conseguimos viver.


por Patrícia Soares
Assumir
[Do lat. assumere.]
V. t. d.
1. Tomar sobre si ou para si; avocar:
2. Chamar a si, assumir a responsabilidade de; ficar como responsável por.
----------------------------------------
Assumo! Assumo todos os fatos. Todas as escolhas e suas conseqüências. Entrego-me a mim mesma e resigno-me ao que realmente sou. Meu sou que não se define, transgride e remodela-se. Meu sou que está no presente, no passado e se apresenta reticencioso. No sou admito minhas imperfeições e as trago para serem evidenciadas. Escondê-las seria um equívoco. Contrariaria meu (in) consciente. Trairia meu eu (in) consistente. Consistência na qual me baseio. Inconsistência que me faz reciclar e adaptar. Assim me apresento, sem certezas e com todas as certezas possíveis até então.
por Patrícia Soares

"Anda cá!"? Não.


Entendi.

Afaste-se! É a palavra da vez. Nada de sentir, nada de ver, nada de nada. Concretize o vazio que já existia e deixe-me viver. Sem ter o que já não tinha? Não, sem ter o que já não possuí. Talvez a poeira leve que é a ilusão tenha assentado sobre mim e nem notei. Chega do não sei esconder nada de você, enquanto tudo não era dito feito. Chega.


Até um dia.

quarta-feira, 30 de março de 2011

por Sabrina Telles


Intrisecamente
O tempo vai se escoando, virando história,
enquanto
o mundo desespera,  virando drama.
O céu desaba, virando lama.
O som, no ouvido, se derrama.
O choro silencioso
da criança
merece o mundo
que,                          tranquilamente,
descansa.


O Se se tornou o Quando
O Quando formou o Porquê
Porquê não se explica
e cria
a aceleração que nos move
e nos corroe
e nos comove 
e nos                                distancia
de nós mesmos
e de outros
iguais a nós
que esperam sem saber pelo quê
que virou o Como
que desconhece o impossível:
o que antes tinha o limite do desconhecido
se amplia
                                 a cada segundo.
E nada se movimenta,
                                    virando tudo;
E tudo se desfaz, virando aquilo que não devia ser inventado
Ou (o) que só tinha essa mesma forma de ser.


*A imagem: Moscovo I, de Wassily Kandinsky, 1916, óleo sobre tela.

quarta-feira, 23 de março de 2011


...E ainda veremos as estrelas na cidade


Sempre dizemos a nós mesmos que não há nada que possamos fazer, porque a humanidade já nos destruiu e tal. Colocamos a culpa no passado, deixamos a responsabilidade para o futuro. É típico de nós humanos. Esse comodismo absurdo é típico de nós. As vezes, cansa...

Pois então, dessa vez, você pode fazer algo para o PLANETA e no PRESENTE !!!
Chega espanta, né? É a falta de costume...

No dia 26/03, das 20h30min às 21h30min,
 desligue todas as luzes de onde estiver!

Esse é um ato simbólico para traduzir nossa preocupação com o aquecimento global. A campanha já tem o apoio de várias e várias empresas e, no Brasil, algumas capitais, como Curitiba e Palmas, já se comprometeram em desligar as luzes dos seus centros turísticos. Em 2010, mais de um bilhão de pessoas aderiram! Esse ano seremos mais!

quarta-feira, 2 de março de 2011

por Sabrina Telles

Como se o mundo fosse um espelho
(ou Palavras Permitidas II)


Eu tenho palavras porque eu tenho você em mim e não há como deslizar sobre isso fingindo ilusão. E ter palavras talvez seja a única coisa exatamente eu: minha exposição. A imagem que construo, a minha presença, a sua presença. Porque você é a imagem que tenho em mim. Você sou eu. Então tudo sou eu? Como se o mundo fosse um espelho, como se a vontade de ser, enlaçada à necessidade de não se sentir só, criasse o mundo. O que não existe é porque não se tem a necessidade que exista. Não é assim? Acho que tudo foi e que será só se for preciso. Não é assim? Desculpem a filosofia barata que não passa de um joguinho redundante de palavras, mas é o grito interno de Clarice* em mim que se manifesta com essa humilde simplicidade; é porque tudo se externa meio sem controle, sai meio sem compasso, numa desarmonização quase sempre imprevisível. E eu não consigo desistir disso. Se não há o novo, eu repito o antes. É tão vital.
Posso escrever a palavra "vida" todo dia que as respostas em mim se diferenciarão. 
Eu tenho palavras e quando não as reduzo à escrita é porque são tantas que não conseguem se organizar nem aleatoriamente (como agora). Eu existo porque eu as tenho. Felicidade se situa nesse olhar que insiste em não abandonar a ampliação imensurável. Uma liberdade tão palpável que sua ingenuidade quase a descaracteriza. Mas ainda é meu simples modo de estar no mundo, de ver a imagem do mundo. E não me tirem de mim em vocês. Renda-me.


*"Eu escrevo como se fosse para salvar a vida de alguém.
Provavelmente a minha própria vida."

domingo, 30 de janeiro de 2011

por Sabrina Telles

Cíclica
(de repente, sempre volto)

É a minha inércia que me incomoda.
Não é possível que uma alteração em minha trajetória seja possível somente por meio de algo exterior. Logo eu que sempre achei que a introspecção fosse o caminho. Pensando bem... acho que ainda nos entendemos assim... Então não é isso que deve ser alterado. Nós somos o que queremos ser dentro do limite do possível é umas das contradições mais dolorosas que tenho que admitir a validade, que tenho que aceitar como única forma. E ela é simplesmente injusta. Ela é injusta como perder o que não se teve porque sonhara demais, porque queria demais, porque a idealização não se sensibilizou.

Não posso excluir você de mim. 
O medo da vulnerabilidade pela entrega total ainda se faz presente. Sensação persistente essa: não se desprende, não me liberta. E, nesse momento, eu nem acredito que estou ignorando a perspectiva das palavras anteriores, a liberdade de me perder desalinhada em busca de outros nós. Não é possível! Sou mais cíclica do que pensava. Vou me receitar um pouco menos de mim.

Sem romantismo, nem realismo, nem modernismo, nem nada. 
Apenas anular minha invariabilidade. Talvez assim até consiga mudar o sentido dessa trajetória. Sou mais cíclica do que pensava. Não posso olhar os capítulos de minha memórias sendo escritos por outras pessoas, E ainda usando os meus personagens. Sinto que eles estão vaporizando em minhas mãos.

Ser narração e ser leitura.
Não posso me comportar mecanicamente dentro do dinamismo do mundo, como se fosse um objeto perdido entre sua real utilidade e sua consciente existência. Vou, mais uma vez, me reescrever. Eu devia me mudar e voltar a morar no sentimento de liberdade de antes e aceitar que de mim você não sairá com facilidade e abstrair minha inércia cíclica, me colocando em inconstância e em imprevisibilidade. Tudo isso já foi dito antes, isso tudo já foi sentido. Sou mais cíclica do que pensava.

Mente e corpo preciso da necessidade de ser (uma nova) eu.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

por Sabrina Telles

 Um pedaço da minha Felicidade sob uma nova perspectiva
                                                               (e, aos poucos, vou)

Estou traçando eu nós -
o que nunca fora tracejado.
Porque não somos nós.
Somos o que fora escondido pelo medo.
O velho conhecido medo de se tornar absurdamente vulnerável pela entrega total.
Não somos nós.




Somos o que foi (e as vezes fez) sentido.
Somos o que parece (mas não foi) perdido.
Somos o não desejo (o não desejado).
Somos o nada que mereceu ser dito
(o silêncio).
Somos eu, mas não nós;
Somos você, mas não nós;
Somos eu e você, e não nós.

E a pequena parte de vento que um dia...
Ah! pensei em nós!... já soprou. Voou.
Está cada vez mais distante, mais intocável.
(Não é tão ruim, não, viu? Mais alto, mais sagrado.)
Ainda amo eu e você
( eu e você não pode nunca se sentir traído,
como se eu não o reconhecesse, como se a ele eu fosse indiferente.
Não, não, pelo contrário. Ele é meu real. )

Isso apenas não é suficiente para meu hoje.  
Preciso de outro pedaço de vento.
Outros eu e você , que talvez se tornem nós.
De outras ilusões de nós.
Porque
nós não somos
Nunca fomos.
(Estou traçando eu -
o que nunca fora tracejado
Porque não somos nós.)
Mente e corpo preciso da liberdade de ser eu
(e não eu e você)
De novo.







P.S.: As fotos à direita são da atriz sueca Ingrid Bergman e as da esquerda da brasileira (com todo o peso e dor dessa palavra) Patrícia Galvão. Não, não tem uma razão direta pra elas estarem aí. Talvez elas me exemplificasse, tenha me inspirado. Sei lá. Senti como se isso tudo combinasse em algo com elas. Ou não. Talvez seja justamente o oposto. Talvez não seja tão simples assim. Cada minuto que passa vejo cada coisa mais complexa. Talvez, talvez... Quem sou eu pra saber de alguma coisa? Mas vou deixar elas aí, me parece bem. 

domingo, 2 de janeiro de 2011

Por Patrícia Soares



Fiquei nesses últimos dias a procura das palavras certas. As quais seriam as primeiras e/ou as últimas. Não as encontrei. Tudo o que aconteceu foi de tamanha intensidade e significado que não deve ser simplesmente pontuado ou descrito. Tenho o sentimento de dever cumprido, o mais importante foi feito. Absorvi todos estes fatos. Fatos tristes, felizes. Fatos belos, inesquecíveis. Únicos. Reveladores. Eternos. Assustadores. Decisivos. Precursores. A sensação de dever cumprido vai além, se estende até ao fato mais importante, ao próprio compartilhamento do mesmo. A internalização não foi, nem deve ser baseada na individualidade. Por isso, corrijo-me: absorvemos. Eu, Sabrina e aqueles que se permitiram. Não tenho o sentimento de finitude. Não cabe nesse texto. Porém, também não utilizo o conceito de início, desse já passamos. Estamos no meio do caminho, nem no passado nem no futuro, mas no presente. Juntos com aqueles que se permitiram e sabemos que irão se permitir por mais um ano – pelo menos. Pois o tempo presente é a nossa matéria, “o tempo presente, os homens presentes, a vida presente”.

Encontrar Neste Blog