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quarta-feira, 2 de março de 2011

por Sabrina Telles

Como se o mundo fosse um espelho
(ou Palavras Permitidas II)


Eu tenho palavras porque eu tenho você em mim e não há como deslizar sobre isso fingindo ilusão. E ter palavras talvez seja a única coisa exatamente eu: minha exposição. A imagem que construo, a minha presença, a sua presença. Porque você é a imagem que tenho em mim. Você sou eu. Então tudo sou eu? Como se o mundo fosse um espelho, como se a vontade de ser, enlaçada à necessidade de não se sentir só, criasse o mundo. O que não existe é porque não se tem a necessidade que exista. Não é assim? Acho que tudo foi e que será só se for preciso. Não é assim? Desculpem a filosofia barata que não passa de um joguinho redundante de palavras, mas é o grito interno de Clarice* em mim que se manifesta com essa humilde simplicidade; é porque tudo se externa meio sem controle, sai meio sem compasso, numa desarmonização quase sempre imprevisível. E eu não consigo desistir disso. Se não há o novo, eu repito o antes. É tão vital.
Posso escrever a palavra "vida" todo dia que as respostas em mim se diferenciarão. 
Eu tenho palavras e quando não as reduzo à escrita é porque são tantas que não conseguem se organizar nem aleatoriamente (como agora). Eu existo porque eu as tenho. Felicidade se situa nesse olhar que insiste em não abandonar a ampliação imensurável. Uma liberdade tão palpável que sua ingenuidade quase a descaracteriza. Mas ainda é meu simples modo de estar no mundo, de ver a imagem do mundo. E não me tirem de mim em vocês. Renda-me.


*"Eu escrevo como se fosse para salvar a vida de alguém.
Provavelmente a minha própria vida."

2 comentários:

  1. Suas palavras são importantes pra mim, eu as mastigo[não digo engolir porque não é algo que eu faça com raiva] e elas planam na minha cabeça e dali saem lembranças de momentos bons.Obrigado. Permita-se ter mais palavras do que a maioria. Seu blog foi um grande achado.
    Beijos.

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  2. Minha alma clariciana!
    O que faço com a abundância de tantas, mas taaantas palavras vertiginosas que me rasgam o ventre, atravessam minhas entranhas e me fazem soltar um soluço de admiração e espanto?!
    Como diria a própria Clarice, você cose pra dentro! E isso é humano!!
    Beijos, linda!!

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