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segunda-feira, 9 de maio de 2011

por Sabrina Telles

Sobre eu mesma outra pessoa

O que estava por perto se contaminou pelo mesmo ar volátil de superioridade. E, diferente da regra, se evaporou voltando ao antes. Antes não é a inferioridade. Antes é a não vontade de ser mais, de expansão, é o não sentimento de ebulição, é o não dramático. Não havia nada que se condensasse quando era antes, não havia nada que se expandisse. Não havia guia, não segurava as próprias rédeas, o mundo era de outro. Alguém que assistia conduzia da forma mais conveniente; alguém que escrevia monopolizava o roteiro. E assim se encontrava sem montaria e sem palavras; sendo outra. Não era toda, era apenas uma parte.

E, agora, o que é se orgulha de o ser. (O ar não tem mais a superioridade volátil, que às vezes contaminava, nem é mais como era antes). Agora percebe-se com um novo olhar para que não haja espanto quanto às próprias formas de agir, para que as próprias sensações não sejam tão asssutadoras. Ao mesmo tempo, há uma tentativa persistente de valorizar o surpreendente. Sente-se inteira para que possa sentir a tudo sem máscaras, sem restrições inúteis. As possibilidades são novas possibilidades que se ramificam em mais e mais possibilidades. (Mas isso é bom? Talvez... o que acha? Eu acho que sim. Pelo menos, é útil à felicidade. Então deixa assim mesmo.)

E depois? Depois, haverá o mundo rendido aos pés. O alcance será do mesmo tamanho da experiência, da quantidade de coisas vividas: um livo de memórias com crônicas e novelas e contos escrito pelas próprias mãos e pelos próprios olhos. Depois, o retorno será inevitável e se romperá a própria compreensão de que a história é o passado, porque o instantâneo e a vida serão cúmplices. Sentirá o prazer de ter sempre existido da forma como existiu, como se renovou, como se debruçou sobre seu eu. Depois será tudo em si mesma e perceberá que assim sempre foi, e, simplesmente, não sabia.

terça-feira, 3 de maio de 2011

por Patrícia Soares

 
Por não sermos tartarugas
nem sermos outros senão humanos

O que busca? A felicidade? E essa emerge da vivência ou da sobrevivência? Todas as noites, colocamos nossa cabeça sobre nossos sonhos e desejos. Pensamentos que nos movem e nos faz levantar cedo antes mesmo do sol nos ver.
O homem só precisa daquilo que ele pode carregar? O homem precisa ser. O homem precisa apenas ser. De vez 'enquando' nos enchemos de esperança e sorrimos. Criamos divindades. De vez 'enquando' nos fechamos para o mundo e sua complexidade, e sua falta de vida. Nos prendemos dentro de falsas cores, falsas visões, falso calor.
Em que devemos acreditar? O que devemos amar? Nosso controle sobre a verdade [nós mesmos] é um frágil fio. Que liga o consciente ao inconsciente. Mas não sabemos reger o fio. Se Beethoven regesse o fio acredito que não o manipularia a favor da surdez. Não sabemos mover o fio. Não temos que saber. Não podemos saber. Sobrevivemos com o que controlamos. Mas é com ausência de controle que conseguimos viver.


por Patrícia Soares
Assumir
[Do lat. assumere.]
V. t. d.
1. Tomar sobre si ou para si; avocar:
2. Chamar a si, assumir a responsabilidade de; ficar como responsável por.
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Assumo! Assumo todos os fatos. Todas as escolhas e suas conseqüências. Entrego-me a mim mesma e resigno-me ao que realmente sou. Meu sou que não se define, transgride e remodela-se. Meu sou que está no presente, no passado e se apresenta reticencioso. No sou admito minhas imperfeições e as trago para serem evidenciadas. Escondê-las seria um equívoco. Contrariaria meu (in) consciente. Trairia meu eu (in) consistente. Consistência na qual me baseio. Inconsistência que me faz reciclar e adaptar. Assim me apresento, sem certezas e com todas as certezas possíveis até então.
por Patrícia Soares

"Anda cá!"? Não.


Entendi.

Afaste-se! É a palavra da vez. Nada de sentir, nada de ver, nada de nada. Concretize o vazio que já existia e deixe-me viver. Sem ter o que já não tinha? Não, sem ter o que já não possuí. Talvez a poeira leve que é a ilusão tenha assentado sobre mim e nem notei. Chega do não sei esconder nada de você, enquanto tudo não era dito feito. Chega.


Até um dia.

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