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terça-feira, 5 de agosto de 2014

por Patrícia Soares,


Título Desconhecido


Não há nada para ser escrito, pois não há nada para ser dito. As palavras se esvaíram de mim. Viajaram no tempo e no espaço juntamente com o que estou deixando de sentir. "Estou deixando", pura e agradável fluidez temporal.

Claro que a condição para é determinante e sutilmente inconstante. É dizer sim ou não ao que não tem alternativas e simplesmente seguir. Se possível para um lugar longe do que lembranças podem tornar visíveis novamente. Na verdade, é olhar para elas e poder enxergá-las sem pausas para estabilizações.


Palavras, emoções, gestos... nada que não fosse rotineiro dentro do que aparentava ser. E, um toque de gentileza da vida fez não ser. O "não ser" que não era uma opção, pois o "ser" não é condicional ligado ao outro "ser". Então, não escrevo, não falo aquilo que não é escutado e não escuto aquilo que não é dito.

Apenas sigo.

quinta-feira, 31 de julho de 2014


por Sabrina Telles


Transparência
(externando Razões)

Chega-se, portanto, a um irresistível ponto em que só se suporta se se converter em arte, porque só se vive se em poesia, porque só assim é real. É só para que perceba que ainda se pode construir ruídos; que os ouvidos ainda conseguem distinguir sonhos; que o imprevisível pode ser extremamente doce; que o que se sente é infantil em gênero e mundo; que o mundo é um caos e se vive.

E se vive em si, porque é preciso a proteção de uma massa corpórea - de músculos e pele; porque os iguais precisam para se reconhecer também em si, e os outros precisam do contrário. Mas não nos enganemos: não seremos iguais, porque não queremos nada senão oposto. (E quer o amor o que não queremos: ser o outro, dentro e fora de si: "abraçar com um pássaro que voa").

Pensa-se em solidez, mas as informações sobre mundo se sublimam muito velozmente. Não há o que esperar: a tranquilidade desejada já incomoda, parecendo que o incômodo é necessário pra sobreviver em paz; parecendo que não deveria estar tão serena em relação ao vazio quando muito do que conhece está ao avesso: ressignifica-se.

Conduz-se pretendendo desvencilhar-se da culpa por ser feliz. Essa coisa de culpa é uma desnecessidade, um perda de tempo e espaço, sempre soube. E o espaço que (se) guarda é infinito, e sempre teve desconforto com o infinito, algo como o medo do escuro. De forma pensada, muitas vezes, se esconde.

Mas não se acoberta com consciência de teatro, com máscaras e todo o resto, não; se sente porque se sente. É bem o contrário: Caminha por dentro de outros com enorme sinceridade, é assim que experimenta gostos.

Transforma essas linhas, como se arte pudessem ser, e humildemente... Incandesce.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

por Sabrina Telles

Para Agora

Quero ser direta para que você me entenda, 
quero largar a poesia para que você me entenda, 
quero minhas palavras secas para que você me entenda, 
quero que o tempo pare para que você me abrace, 
quero o cotidiano, 
quero o meu olhar no seu para que você me entenda, 
quero os verbos que não são meus para que você me entenda, 
quero guardar o dia de abril para que você me entenda. 

Desligo os sons que são meus para que eu te entenda, 
fecho os livros que vou ler para que eu te entenda, 
deixo as luzes ligadas para que eu te veja,
quero seu olhar no meu para que eu te entenda
 troco seu rosto com o meu para que eu te entenda, 
apago os sons da tv para que eu te entenda, 
me deito sobre o mais nobre silêncio, mesmo quando não é meu, para que eu te entenda. 

Descarto agora o que dentro de mim não é seu para que eu te entenda, 
para que você me entenda, 
por nós, 
para atarmos mais nós.

sábado, 25 de janeiro de 2014

por Sabrina Telles

Quando se entende o que te abraça
(ou Palavras Permitidas III)


Feito linhas,
pouco a pouco, se desenovelam,
e vão me rodeando,
sem um sentido conhecido,
aparentando aleatoriedade,
tangenciando minha pele - no limite entre rasgá-la
ou se partirem em incontáveis pedaços
e voltarem ao mundo,
onde o ar é rarefeito,
E pairam,
com uma liberdade indesejada,
à espera, sem procura,
do que as moldem,
de qualquer grito,
qualquer alegria,
qualquer silêncio, de algum olhar.

E,

a cada rasgo,
pouco a pouco, se impregnam,
sem escudos de medo,
com a coragem daquilo que quer
adentrar,
ser absorvido
sem julgamentos,
sem licença,
atravessando capas.
E deflagram o que encontrou impresso em mim,
o por trás do medo,
expondo o sítio
onde tudo pulsa,
e é agudo,
onde se sente sem culpa, sem mágoas,
onde sombras se desfazem,
onde não ser é o ser mais puro que há.

E,
soberanas,
já esquecendo
a intranquilidade do processo,
e se acalentando,
se imiscuindo,
se desfazendo;
confundem-se
com o mais natural fluido vermelho.
Rendo-me.

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