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sábado, 17 de novembro de 2012

por Sabrina Telles

Inversos

Pois se esqueceu que o mundo e as pessoas não podem ser reduzidos em um único abraço, se viu inteiramente com os pés fora do chão. 

Não pode se conter: Inspira dualidade, em instantes espaçados, experimenta transgressão e sai - com uma noção descaracterizada, meio sem fé. Vez e quando, se repete e segue depositando os momentos em outros e adiando o dito certo e criando peças de alguma coisa que é montável, mas que não se encaixam.

Mas as sobras de ser, que pensa que existem, conseguem fazer dos passos um entrelaçado com qualquer tipo de passado, se intimidando - tanto pelos próprios passos que se julgam antes maiores, quanto pelas marcas deixadas que se amoldaram tão tangentes que parecem definitivas. E o cansaço, que cada coisa que toma um espaço seu lhe atribui, é o que se faz completar de forma atropelada o incompreensível.

Quando vê cada coisa ser mais crua do que criam aos nossos olhos, que tudo pulsa controlando sua própria forma, preservando o que lhes individualiza: É inverso: tocar o céu tem forma tão simples como água, de matéria tão natural que não se percebe, não se pensa. É que, quando se vem inteiro, e não se percebe, se voa: É sentidos.

Mas não se foge do que é seu, nesse mundo, não mais segue pensando ser possível excluir pedaços de memória como se a consciência de si lhe desse esse tipo de liberdade: É inverso: o esforço faz se impregnar com vontades e versos e verdades e se veste do que não parece mais necessário - com o poder visceral que tem tudo que é sutil.

É o único conjunto de sentir conhecido. E se entrega, com suas letras e músicas, todo seus verdes e azuis, ao irremediável aceitar-se: "...porque és o avesso do avesso do avesso do avesso".


P.S. Arte é fazer o mais do que necessário ser também extremamente necessário: 
razão e efeito: Incandesce.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

por Sabrina Telles

I. Do vento ao sólido
(Eu)

As ideias não se sustentam mais, querem a segurança do que é sólido, querem o que só age: não é possível contentar-se de contente.

Chega então a sensação de que eu voltei para o que sou. E agora dura mais intensamente a cada instante, sem a pressa de não cumprir seja lá qual for o seu destino.

Cheguei ao ponto de quando eu estava com a leveza de quem cumpriu decisões certas, e sentia o sol da tarde sem incômodos, como se a vida fosse vento nos olhos fechados; Onde a dor não pode ser a única coisa que me leva a escrever.

E eu revivo, durante meus passos, sensações que são minhas, que ficaram guardadas em algum espaço delineado e que agora desmanchou suas linhas e as deixa voar aleatoriamente. E vão aparecendo a todo instante com suas temperaturas e nuanças, explodem em curtas, com toda força de ser como são. Eu só lembro que ficaram, não lembro de onde vieram, nem quando vieram, e apenas sei que voltam ao ar da mesma forma fugaz que vieram.

Ainda que me preencha por completo, eu não caibo em mim. Até o vento se solidifica e, com leveza, me carrega por entre prédios e automóveis e luzes do trânsito e o medo não me impede. Sou maior que o próprio amor.


II. Do sólido ao líquido
(Você)

Hoje eu lhe entendo ainda mais do que se possa calcular, numa confiança tão despropositada quanto admitir o incondicional. Mas não (te) aceito. Eu sei quem você se faz, mas eu não reconheço mais o seu gosto, que você existe. Está muito longe aqui dentro, e não é tranquilo.

Felicidade não se finge construindo chãos e tetos tão frágeis, você devia saber. Essa incompatibilidade entre o pensar e o agir tecida como se essa relação fosse facilmente deslaçada pertence a outro mundo. Mergulhou nele pensando que seria mais fácil, não foi? Agora felicidade é mais.

Nessa imprevisibilidade de como pensam que seus atos se formam, eu queria, às vezes, ter a certeza de que está bem, se tem lembrado de voar. Lembro de você, apesar de não saber se já foi algum dia aquilo que eu conhecia, sem saber se já foi algum dia o que todos os outros conheciam como você. E diria que suas promessas não te revelam, por isso vão e vêm sem se consistir, sem destino, sem compromisso. Tudo é líquido e derrama pelos dedos.

Revele-se.

Comigo tudo flutua ao meu redor é sempre vento. Mais sólido do que antes.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

por Sabrina Telles

  ~ Suavidade

Essa noite eu não consigo mais que perguntas, rascunhos, ventos, indefinições. Essa noite serei dos outros, de histórias alheias, de realidades inventadas, músicas, cenas, guardadas sensações. 


E fugirei do sensível por instantes, para me sentir inteira. 

O que sei é que, sendo tudo todos os dias, parece que só me sinto em partes. O que é importante me faz acelerar e vivo em variação de velocidades pelas ruas e dias. O que me define é o espaço que cada tempo leva, como cada momento se percebe meu e não de outro. O que eu vejo, quando percebo você se remodelando a cada segundo em mim, é você se distanciando, por se tornar cada vez mais interno e menor, por ser cada vez mais lembrança e menos falta, pela preservação de nós, mesmo sem querer saber se já fomos algum dia alguma espécie de nós, se já desatamos nós, mesmo te aceitando intrínseco a mim, mesmo com essa saudade, que lentamente, como todos os traços, cada vez mais se suaviza.

Essa noite eu não tenho as respostas das suas perguntas, mesmo sendo possível que você tenha o que quero ouvir e sentir. Essa noite eu aceito que não seja certeza, que não seja preciso, que eu não preciso.

E simplesmente desligo as exigências e deixo, sem esperar, que em repouso chegue de novo amanhã.


~~

sexta-feira, 13 de abril de 2012

por Sabrina Telles


Quando eu era ontem

(Sendo extremamente sincera e direta comigo, quase uma oração...)

Quando eu era ontem, eu lembrava de mim como sou hoje. Amava minhas opções, o que escolhia, o que alcançava só por olhar e querer absorver. Lembro que meu amor por todas as coisas é porque fui exatamente, precisamente, sentindo em todos os sorrisos. Eu construí o meu amor.

Dizer que eu deveria não ter dado espaço em mim é transferir uma responsabilidade de sentir muito grande ao meu ontem - que já se sobrecarregou demais com todos os arrependimentos desnecessários. Não é possível seguir por todos as ruas ao mesmo tempo e tirar conclusões por comparação para viver pensando em evitar erros e ausências. Não adianta forçar molduras, caixas e imagens de si, Nem manter só a memória do que se evaporou sem ter sido ao certo.

Liberto meu ontem para que ele seja tudo que ficou de sensível: os verdes, os ventos, os fins de tarde; e os cinzas, a poeira, as chuvas, os faróis. Que lembre de ser em mim todos os sentidos do que eu sou hoje. E que, no fim das contas, viva tão suave como desejo ao amanhã.


terça-feira, 13 de março de 2012

por Sabrina Telles

Intencionalmente

Houve um tempo que os quases e os talvez eram o ideal que eu conseguia. Inclusive, perfeitamente pertinente era tudo seu em mim nesse contexto: tanto levezas quanto solidez. Ainda restava uma certa heterogeneidade entre o Sensível e as Ideias, uma aparente (e saudável) distância.

Mas agora já não sei se avanço ou retrocedo. Na verdade, não saberia diferenciar uma lógica da outra, valorar direções. Penso em continuar com você em mim: quase ao ponto de querer me acostumar com as revoluções só para não deixar de sentir esses coisas desconsertantes, inominadas. Só para ter uma coisa, uma causa.

Quanto mais transparência, mais certeza da dúvida. Aquela heterogeneidade não tenta mais, nem ao menos, se impor no fingimento da distância entre meus mundos. E as imagens se embaralham quando lembram do sentido e do não dito. Até parece que a relação entre passos e asfalto se alterou de alguma forma, como se eles se tocassem ao andar e agora não mais, ou, do mesmo jeito, sol e pele, ou qualquer outra que serve para sensibilizar. Mas não é isso. Ou melhor: não dessa maneira, com essa simples compreensão. É outra coisa que não sei.

Queria me olhar com suas intenções e saber se sabe quais são. Queria poder ver onde está o sol quando não lembra de mim, o que está fazendo de mais importante. Queria me ler com suas percepções e sentir o que acontece com seu mundo, se é o mesmo que está acontecendo com o meu enquanto agora.

Queria seus alguns, uns instantes.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

por Sabrina Telles

,Se Calhar,

Uma vontade de imersão em minha profundidade. Mas estou ro(a)sa esses tempos. Estou a pensar, inclusive, que essa superficialidade foi conquistada, que, por ora, é um resultado satisfatório. Desta vez, mais letras que pingos que querem sê-las: um nível bocadinho razoável de "ir direto ao ponto".

Ainda assim, de repente, por entre coisas que não ficaram no lugar, te encontro e não me sinto sólida. O que já é bastante para que o inacabado disso tudo não me agrade mais: é cansativo fingir que o não aceitar é o não perceber que sente; que não entender é mais sensato. 

Cansativo a ponto de quando o sensato não se equilibra com o sensível, eu digo que não, mas escolho o segundo. E é esse próprio fingir que, ciclicamente, me faz fazer essa escolha. É esse próprio fingir que vulnerabiliza tudo a ponto do sensível equivaler-se ao vulnerável sem nenhum risco prejudicial de minimizar seu sentido.

"And I feel like I'm seeing the world inside of me, 
But I can tell you that I know, it's getting easier to breathe"

Eu posso até acreditar que me entende, mas não espero, de facto, que vais a aceitar agora - o que não faz mal, pois não aceitei isto antes. Por isso, hoje eu não só te sinto, como eu me sinto tu (com os seus estar e não estar) mais do que pensaria que pudesse compreender. O meu esforço de te transformar em um talvez (sempre forcei essa verdade) é tão em vão como disfarçar sua presença: grau semelhante de inevitabilidade.

Porque vejo sinceramente o que toda a gente sempre esteve a ver: nossas frequências de oscilação destoam ridiculamente. Mas, se calhar, é melhor assim.

domingo, 8 de janeiro de 2012

por Sabrina Telles


O virtual, os desejos, as palavras... Do Ar, Sol.

Mesmo que fuja de tudo, que corra o mais longe, vai haver um vazio que me fará querer voltar a mim mesma: acabo cedendo ao que sou. Não que ser - seja lá o que sou - seja algo estático, pelo contrário. É que sempre há uma constante enraizada em algo durável no meio de tantas metamorfoses e revolução. Eu quero tocá-la.

Eu tenho as cartas na mesa, coloquei todas elas, olho pra elas, as reconheço e só. Encaro-as como se tivesse esperando que de súbito fizessem algum movimento e, se eu desviasse o olhar, perderia. Mas nada. Se era para saber, eu sei e, agora, essa clareza, serve? Adianta (ou retarda) alguma coisa? 

Por um tempo cheguei até a pensar que sinto as coisas que sinto só pra arrumar palavras de certa forma, organizá-las, desenvolver ideias. E como eu sinto as próprias palavras mais do que elas são, mais do que eu posso explicar, provavelmente mais do que outros olhos que as leem, achava que eram o meu máximo. 

Mas não posso ser só (isso), então repensei. Também não queria enchê-las com tanta responsabilidade, com tanta obrigação de ser sempre eu. Assim, abandonei de vez a ideia. Eu quero que elas sigam além-mim, que possam mais... eu sei, eu sei... Estou dando mais do que tenho, pois não sei ser mais que eu e, ainda assim, desejo essa liberdade a elas. Ah... isso deve ter algo a ver com o que é amor.

Mas não se enganem. Ainda quero me sentir inteira através delas, ver mais e mais aquela clareza cuja utilidade é desconhecida, e que eu sei que só elas me dão. Eu sei, eu preciso, e, mesmo que eu não quisesse, ainda somos nós.

(Entre lugares, histórias, pedras, estrelas, areia, jardins, linguagens: 
não adianta: 
quando basta uma criança sorri: 
tudo se reconstrói ao seu mais simples. 
E viver se faz tão fácil.)

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