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quarta-feira, 15 de julho de 2015

de Sabrina Telles

UBUNTU
(ou o que fazer com nossas reticências)
- com Elis, para nós.

[Pego certas coisas que deixei guardadas e chego: vim desempoeirar, cumprir promessa. 
Não sei ao certo como, mais uma vez, vou recompondo.
Sopro uma espessa camada...]

- Como pode ainda haver tanto a pensar naquele momento em que não desviamos o olhar das imensidões que se escurecem? Há tanto a ver...
Elas largam o verde, o azul, as suas manchas brancas, 
e se imiscuem a ponto de não podermos distinguir uma da outra. 

Não cabemos em nós...
Elas se refletem. E calam outros sons dando lugar aos ruídos mais internos, 
aqueles que nem sabíamos que ainda podiam ecoar. 
Olhamos para nós...

[pausa]
E lançamos de modo contínuo questões no ar, na espera de alguém que as responda ou, ao menos, que traga qualquer vestígio de calmaria: que diminua os ruídos. 

Inventamos certa calmaria...
E queremos doar pedaços dessa invenção umas as outras. 
Arranjamos certas respostas, 
alimentamos o insaciável, 
embebedamos o seco, 
rimos de nada e de nós: 
queremos menos dor.
["Solo pido que deje de doler..."]

Pensamos em nossos corpos...

É que, pela distância entre o núcleo de um átomo e a sua eletrosfera, 
somos mais vazio do que pensamos. 
É que é sempre vazio o que não conhecemos: 
é como nada.
Eles se refletem e se deterioram: 
são apenas corpos, com o infinito em frente, com o infinito acima.

Sabemos nada sobre as coisas...
Tudo vai seguindo seu próprio ser 
como se só houvesse um único estar: 
deixar o externo agir sobre si. 
A engrenagem das coisas faz cumprir seus destinos.

["São tão fortes as coisas! Mas eu não sou as coisas e me revolto."]

Somos essencialmente arte...
Essa consciência nos leva a aprender que muito não será aprendido, 
que muito do que veremos não conheceremos mais do que aquele exato, 
muito não vai se fundamentar, 
muito não se saberá. 

E nos queremos bem.

O Tempo desconstrói nossas verdades: não, não salvaremos a humanidade.

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