de Sabrina Telles
- Como pode ainda haver tanto a pensar naquele momento em que não desviamos o olhar das imensidões que se escurecem? Há tanto a ver...
UBUNTU
(ou o que fazer com nossas reticências)
- com Elis, para nós.
[Pego certas coisas que deixei guardadas e chego: vim desempoeirar, cumprir promessa.
Não sei ao certo como, mais uma vez, vou recompondo.
Sopro uma espessa camada...]
- Como pode ainda haver tanto a pensar naquele momento em que não desviamos o olhar das imensidões que se escurecem? Há tanto a ver...
Elas largam o verde, o azul, as suas manchas brancas,
e se imiscuem a ponto de não podermos distinguir uma da outra.
Não cabemos em nós...
Elas se refletem. E calam outros sons dando lugar aos ruídos mais internos,
aqueles que nem sabíamos que ainda podiam ecoar.
Olhamos para nós...
[pausa]
E lançamos de modo contínuo questões no ar, na espera de alguém que as responda ou, ao menos, que traga qualquer vestígio de calmaria: que diminua os ruídos.
Inventamos certa calmaria...
Pensamos em nossos corpos...
E queremos doar pedaços dessa invenção umas as outras.
Arranjamos certas respostas,
alimentamos o insaciável,
embebedamos o seco,
rimos de nada e de nós:
queremos menos dor.
["Solo pido que deje de doler..."]
Pensamos em nossos corpos...
É que, pela distância entre o núcleo de um átomo e a sua eletrosfera,
somos mais vazio do que pensamos.
É que é sempre vazio o que não conhecemos:
é como nada.
Eles se refletem e se deterioram:
são apenas corpos, com o infinito em frente, com o infinito acima.
Sabemos nada sobre as coisas...
Tudo vai seguindo seu próprio ser
como se só houvesse um único estar:
deixar o externo agir sobre si.
A engrenagem das coisas faz cumprir seus destinos.
["São tão fortes as coisas! Mas eu não sou as coisas e me revolto."]
Somos essencialmente arte...
Essa consciência nos leva a aprender que muito não será aprendido,
que muito do que veremos não conheceremos mais do que aquele exato,
muito não vai se fundamentar,
muito não se saberá.
E nos queremos bem.
O Tempo desconstrói nossas verdades: não, não salvaremos a humanidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário