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quinta-feira, 15 de setembro de 2011

por Sabrina Telles

De novo, amanhã
(Retrato de um final de dia)

- para Livinha e Pathy -

O céu escurece conduzindo as palavras de um dia a mais. E os sons se misturam às luzes que aparecem uma a uma - e às estrelas. Tudo vai sinalizando e a preocupação do céu é soprar para amenizar o cansaço. Enquanto venta uns fios frios, o laranja vai sumindo. Tudo mais uma vez.

Tudo passa, e anda, e corre, e voa como se uma força autônoma tivesse criado engrenagem em estrelas, em nuvens, em carros, em luzes. Até seu corpo não é mais seu, se anestesiou com o dia. O peso e o prazer são igualmente partes do dever de viver em si. "Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é".

A beleza não é mais dos olhos ou está nas mãos. Não lembra nem que beleza existe, o movimento é padrão. Enquanto venta uns fios frios, enxuga-se a dor de não poder escolher o que constrói de si. Aguenta mais um pouco, tá? Faltam apenas alguns passos. Não se preocupe!

Depois de ter o mundo deitado em sua cabeça, tira o pano enrolado em forma de círculo que não o deixou desequilibrar. Tira o pano, tira o lenço e descalça os pés já descalços: alívio. Experimenta o amor. (Quem será que ama mais? Quem luta pra se conformar, ou quem nem sabe que há conformidade e só luta? Quem chora mais? Quem é que sonha mais? Eu não sei, eu mal conheço o mundo.)

E mais tarde... Ah, amanhã... De novo, as luzes se apagam e as cores reacendem com a mesma intensidade. Uma coragem se espalha por todo corpo silencioso, obediente. É uma "força que nunca seca". Cria-se o mundo, monta-o de novo equilibrado no pano enrolado sobre a cabeça e sai.

2 comentários:

  1. Amiga, você desceveu o que sinto e me acalentou... Te juro, estou mais leve depois do seu texto. Obrigada! E ah, eu vou aguentar.

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  2. Gostei dos seus textos. Vc tem uma escrita assim suave... é cativante e envolventee

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