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quarta-feira, 13 de novembro de 2013

por Patrícia Soares


Vazio. 



Vazio e um ponto.                                                                                            Nem as reticências cabem mais. 


Pois nada cabe. Pois não há o que caber no não ter.

                                                                                                                                  Vazio. 


Um pouco de luz, até porquê, já esteve mais escuro. Porém, só.
Nem palavras ousaram entrar. Nem música. Acredite, nem música.
Ir, não ir; tentar ou não; conseguir, quem sabe.


Nada se sabe no caminho que não existe ali/aqui.


Ruídos passam ao longe. Às vezes. Se espiar um pouco o que há do lado de fora, vê-se tudo, todos e mais um pouco. A fonte que não secou, mas da qual não se bebe mais. Os sorrisos dados. Ou não. Na verdade, não. O céu iluminado, até também não se sabe quando. Os laços partidos, que ainda estão unidos. E os não partidos, que estão. Muitas coisas se vê do lado de fora.


Mas, sem perceber, está novamente aqui/ali.        

                                                               
           Em lugar algum.

                                                                                                          Talvez naquele.


Continuará sem saber.


                                                            Vazio .

terça-feira, 20 de agosto de 2013

por Sabrina Telles

Variações de azul-petróleo

O ciano permitiu que o grande rasgo apitangado se abrisse, se espalhasse, criando um rastro horizontal, e atrasasse sua sincronização com a água que apenas espera
.
Espera escurecer para escurecer e encontrar... 
E se encontrar.

Terminando o gosto do dia com um feixe de luz no rosto que marca, na parede, perfis cinzas e tranquilos. O vento translada o azul ao atravessar a janela e todos os móveis e livros, mais uma vez, se (re)matizam.

Diminui a pureza espectral relativa da própria luz, que pousa em tudo, que chega a você; Pois, Quando eu te vejo, 
até o verde se azula.

E os objetos conseguem todos ser tão condescendentes, como se não pudessem existir estampados de nenhuma outra forma,  como se estivesse onde sempre deveria estar, como se fosse destino incontroverso o repousar do vento em si
da luz, do azul do mundo em si.



(Lembra agora de uma lógica sensível de infância: eu vejo apenas as cores que vejo, e não sei se são do mesmo jeito que as suas. Talvez nossas cores preferidas apareçam para gente da mesma forma, talvez sejam as mesmas, mas nunca saberemos. Posso lhe emprestar meus olhos? Deixa eu olhar o mundo com os seus?)

Sente ao redor com tanto contraste que tenta admitir que as imagens saíram de sonhos acordados e não consegue: Pensa que ainda dorme. 
Todas as vontades explícitas, deitadas em pele,
e não acredita: Pensa que ainda dorme.


Poesia é onda, é partícula. Não hesita em sensibilizar os olhos nus.

sábado, 15 de junho de 2013

por Sabrina Telles

Entre maçãs e abacates

Sigo marcando passos pela poesia em cada vida e objeto ...

Em meio ao possivelmente real sem duvidar de que nossas mãos podem alcançar o sentido do que acreditamos, e sem esquecer que há tudo e nada em nós e sobre nós, refletido na noção de que o individual precede (e baseia) o coletivo, de que os homens somos um universo.

(Uso aqui o plural sem receios, Alegria, porque o incômodo para sermos exatamente o que queremos se revela, em explosões, dia após dia, diante de nós: somos de angústias compartilhadas.)

Saímos pelos esquadros e esferas de luzes da cidade, vestidas do que colhemos da beleza dos símbolos, entre aquários e leões, usando-nos como força-motriz.

Andamos traduzindo imagens em palavras e palavras em imagens, incansavelmente, feito água em pedra que escorre e, sem que os olhos possam notar, vai corroendo, como arte.

Fazemos, do olhar, motivo para sentir algum algo do que todos sentem em si e nos enlaçar ao que nos protege, abraçando e reduzindo a pó o medo de que os ombros impeçam o movimento dos pés e aja com força maior do que nossa vontade.

... e, do mundo pouco sabemos, pouco entendemos, não se pode controlar sua sensibilidade.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

por Sabrina Telles

Alegria

(sigo definindo versos pelo sentido do olhar)

Enquanto alegria cai em desuso, eu inspiro pedaços de sua liberdade, como se fosse possível abraçar o vento; como se, com isso, ele continuasse trazendo a mesma sensação; como se os sons fossem palpáveis; como se aquário fosse mar; como se ouvidos, olhos; como se olhos, boca. 

Passeio por entre minhas percepções de captar, à primeira vista, o interior das coisas: tenho visto histórias por trás de cada rasgo, cada emenda, de cada pedaço de tudo. Eu mesma as invento. E vou dando sentimento a elas com uma naturalidade inesperada - mas nem por isso descaracterizada -, o que talvez seja um recém-descoberto vício.

Por uma dialética quase cansada, confesso que vão também me gastando, em proporções e formas coloridas, ao considerar aquela noção de que o papel risca a grafite e o carvão, e não o contrário.

Mas não se preocupe, minha vida... Não uso a simples fórmula de antes, em que eu olhava e queria absorver, engolir, sem muito filtrar. (Tal confusa passividade de grafite e carvão não deixa a dor predominar como as aparências podem ditar: além de ser apenas uma das várias vias, que seguem paralelas, eu vejo sempre construção ao findar de ciclos.) Não desejo engaiolar tudo atribuindo automaticamente sentimentos exagerados, descontrolados. 

É diferente: fica entendido que não é apenas meu: quero que voem. Redesenham assim o inventado unilateralmente e se recriam, se acrescentam frente a mim. Encontro-me aceitando essa condição - muito menos como resignação do que como razão e efeito de ser do amor.

Sinto, então, uma saudade que veio de súbito, mas que permanece leve, no sentido de um sorriso, com a intenção de ser nada mais do que pacífica.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

por Sabrina Telles

Paralelos


Enquanto suas palavras me descrevem mais do que as minhas, eu vou esperando que os dias passem para que enfim encontre mais alguma coisa. Algo que deve ser mais vida. Algo que será apenas o peso ou a leveza de mais dias, e mais sol após lua após sol, e, quando variar, mais chuva após nuvens após chuva: espera após espera.


Enquanto percebo que o Tempo não ama da mesma forma com o passar do tempo, olhares se prendem a coisas que não se rendiam antes. E não se doavam pois desconhecia que todas as coisas podem ser suas se apenas as olhasse. De um modo contínuo, existe um tanto mais além.

(Nasce em si o medo de poder ver o infinito e fecha os olhos. Não suporta a quantidade de luz.)

Enquanto transpareço o que não sinto, você me reflete mais do que eu em espelho. Imagem que deve ser como o escudo que serve para conter o grito dos homens quando descobrem que existe o amor, e ficam transitando sem noção de espaço entre o perdido e o intocável. Eles  não entendem 
(menos ainda) 
de si mesmos.

Enquanto você entende que não consegue ser maior, as pessoas se perdem facilmente umas nas outras, e experimentam ser nós como nós queremos ser.

Com os pés, respira terra, respira alfalto, e lembra que suas pegadas se esforçam, a cada passo, para alcançar o inesquecível, ainda que, por enquanto!, não se diferenciem tanto umas das outras por motivo de equidistância e morosidade. Insistentemente - pois só assim se é - segue: feito criança.

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