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quinta-feira, 20 de agosto de 2009

por Sabrina Telles
Sou afrodescendente. Não trago essa marca na cor da pele, nem dos olhos nem do cabelo. Mas sou afrodescendente: sou brasileira.
Sinto como se não pudesse brotar de outro chão. Como se não pudesse ter vivido sem atabaques, sekeres, surdos. Como se fosse extremamente pertinente e necessário ter crescido com Castro Alves/ Contorno/ Comércio. Como se o sangue misturado com dendê e farinha que percorreu gerações e gerações tivesse parada obrigatória nessas veias.
Salve a Mãe África e seu filho cujo cordão umbilical cortou-se a milhões de anos, Brasil.
Salve os meus irmãos que a 121 anos comemoram a expurgação da senzala para as favelas. Aqueles que hoje sofrem com um genocídio estatal despropositado e com a zoomorfização dentro de celas. Salve nós negros que não nos rendemos. Mesmo enquanto nossa história era registrada pela hegemonia omitindo, por exemplo, que "o homem encadernado" era afrobrasileiro. Mesmo enquanto as crianças cresciam considerando a beleza da boneca um padrão melaninas-luz de distância delas próprias. Salve. Nós vimos, sentimos e gritamos.

3 comentários:

  1. Sua sensibilidade me emociona....e gratifica

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  2. Sensível,lindo e verdadeiro.Se palavras pudessem descrever o seu texto essas ainda não serviriam perfeitamente!

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