por Sabrina Telles
Ela: Salvador
Em pensar que existem verbos que me colocam como predicado de seu sujeito já valem a pena gastar essas repetitivas palavras, E leio carta.
Projetam-se, pelas ruas, imagens de sua cor, a cor dessa cidade, e compreendo que não posso as compreender em absoluto, então assisto elas serem. São borrões de tão rápidas, pairam com o vento.
O silêncio de meu corpo vai se completando com cores e vozes, mas logo transbordo. Não entenda como falta de generosidade de meus olhos, é que as imagens da rua são maiores que eu e meu espaço não é tanto.
Mas eu sinto que respira escondido, sinto seu transtorno com o visceral, sinto seu medo da sensibilidade imoderada, sinto sua dor de ser mais do que a beleza das cores que lhe foi dada, sinto sua verdade querendo extravasar, sinto seus seis sentidos pulsando, sua felicidade clandestina, sua insustentável leveza de ser.
A cada linha que se lê, se manifesta outro novo mundo e as verdades em mim elas vão se esvaindo, e lembra* de algo elementar: são todas, todas, todas mutáveis em frações minúsculas de espaço e tempo, a ponto de ser confuso acompanhar, E as aceito.
A cada linha que se lê, se percebe que não nos libertamos da espera pela força que mude o itinerário e grite "1, 2, 3! Salve todos!" e assim aconteça. A bem da verdade é que nos libertamos através disso: é o que pegamos para nos livrar do medo de viver sem (ser) sentido. Resta guardada a esperança** de que essa leitura seja a que me salve.
(Agora, vou me retirar ainda em começo, não posso continuar transparecendo, transpirando...
Deixo pra outro dia.)
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* Disso já se sabia. Mas não nos culpo por nos esquecermos, em nome da sobrevivência, de lições que já tínhamos aprendido, não. É que é preciso aceitar algumas exatidões pra viver nesse mundo... pra comer e beber e vestir. Só não as deixemos domar o que de melhor e mais instável há em nós.
** Mesmo achando que não devo, fico um pouco escabreada ao usar essa palavra, pois a engrenagem externa diz que é bobagem tê-la em tempos assim como estes. Largo aqui tal pudor e a panho em seu verde.