Devagar: o mais rápido possível
Como se pudesse absorver suas histórias, observo as pessoas pela rua. "Pela janela do quarto pela janela do carro, pela tela, pela janela". Por trás de cada expressão, de cada andar; há um passado e um futuro. Tento decifrá-los. Não, não os decifro de fato. Atribuo, na verdade, um sentido a tais signos da maneira que minha imaginação acha mais adequada, mais coerente.
Tornou-se involuntário: eu observo. Pronto! É isso! Prepotentes os meus olhos sempre foram, sempre curiosos, sempre querendo mais e mais. Uso-os no presente, como se o presente existisse.
Enquanto isso, o tempo passa, o tempo cronológico passa. E eu? Sinto-me fraca pra acompanhar seu ritmo na velocidade considerada necessária. Nunca se satisfazem: nem as pessoas, nem o Tempo, nem as coisas. "São tão fortes as coisas, mas eu não sou as coisas e me revolto". Revolto-me menos comigo mesma do que com as coisas pra lhe ser sincera. Neste instante, os outros são culpados. Talvez não haja mais espaço em mim para culpa. Preenchi simplesmente. Preenchi com coisas melhores. Preencho com o passado e presente alheio.
E minha história? Vivo-a sim. Há sempre um espaço enorme para a saudade em mim. Mas quero agora o presente. As horas, os minutos, os segundos. O presente mais que instantâneo. A roda no chão, o ruído da respiração, o piscar de olhos. Apenas com uma condição: sem tanta velocidade; e sem anular a aceleração. "É com esse que eu vou". Estou andando devagar o mais rápido possível.
"O presente é o instante em que a roda do automóvel em alta velocidade toca minimamente o chão. E a parte da roda que ainda não tocou, tocará num imediato que absorve o instante presente e torna-o passado." Água Viva.