por Sabrina Telles
Alegria
(sigo definindo versos pelo sentido do olhar)
Enquanto alegria cai em desuso, eu inspiro pedaços de sua liberdade, como se fosse possível abraçar o vento; como se, com isso, ele continuasse trazendo a mesma sensação; como se os sons fossem palpáveis; como se aquário fosse mar; como se ouvidos, olhos; como se olhos, boca.
Passeio por entre minhas percepções de captar, à primeira vista, o interior das coisas: tenho visto histórias por trás de cada rasgo, cada emenda, de cada pedaço de tudo. Eu mesma as invento. E vou dando sentimento a elas com uma naturalidade inesperada - mas nem por isso descaracterizada -, o que talvez seja um recém-descoberto vício.
Por uma dialética quase cansada, confesso que vão também me gastando, em proporções e formas coloridas, ao considerar aquela noção de que o papel risca a grafite e o carvão, e não o contrário.
Mas não se preocupe, minha vida... Não uso a simples fórmula de antes, em que eu olhava e queria absorver, engolir, sem muito filtrar. (Tal confusa passividade de grafite e carvão não deixa a dor predominar como as aparências podem ditar: além de ser apenas uma das várias vias, que seguem paralelas, eu vejo sempre construção ao findar de ciclos.) Não desejo engaiolar tudo atribuindo automaticamente sentimentos exagerados, descontrolados.
É diferente: fica entendido que não é apenas meu: quero que voem. Redesenham assim o inventado unilateralmente e se recriam, se acrescentam frente a mim. Encontro-me aceitando essa condição - muito menos como resignação do que como razão e efeito de ser do amor.
Sinto, então, uma saudade que veio de súbito, mas que permanece leve, no sentido de um sorriso, com a intenção de ser nada mais do que pacífica.