por Sabrina Telles
O vento fazia esfriar diferente de outras formas de ventos de outros lugares. Não era fio, era todo e profundo e eu queria sentir até não poder mais. Do amarelo, só se percebia alguma luz e o azul claro do céu. Eu permanecia no superficial. Ou seria o contrário? Fui tão a fundo que não encontrei nada e pude respirar por mim?
O silêncio interior se expandia, mas não acompanhava a desnecessária chuva de palavras que minha boca insistia em derramar - tão significativas que mal lembro delas. Outro pedaço cômico. Mas sei, de certa forma, que, se assim não fosse, se não falasse algo, qualquer coisa, não experimentaria o não sentir, o não pensar. Ainda não existo, nem por um momento, sem palavras - em silêncio completo. E também não podia existir nada daquilo.
Só cheguei aos pensamentos reais das palavras de sempre, depois, quando fui praticamente obrigada a me entregar à necessidade de dormir.
Areia e céu
Quando não há mais o mesmo, o mundo se rompe e assusta os que não esperam por tanto. É uma estranha descoberta chegar a um estado em que os pensamentos de sempre se evaporam e a mente esvazia completamente, meio que se adaptando ao que nem sabe ainda o que será. Até tentei me valer dos mesmos assuntos, até mesmo na tentativa de analisá-los com mais clareza, já que estava ali, já que não tinha chuva. Mas nem pude. Estava me moldando ao não pensar e não encontrava forma de controle. À minha frente, areia, céu e algo de planta e de animal.
Decidi, então, mecanizar: peguei a máquina pra guardar o máximo do momento. Não conseguia captar o que meus olhos viam e ia me frustando. Ia tentando e tentando e dizendo que seria impossível, mas não deixava de tentar. Não dei muito ouvidos a mim mesma, talvez se outra pessoa me dissesse. Uma cena cômica, escrevo sem vergonha. Agora, coleciono várias fotos quase iguais (com uma diferença de ângulo imperceptível à primeira vista) que servem só pra provar o que estou lhe dizendo. Tenho algumas muito poucas diferentes. Posso até mostrar (nem eu, nem a máquina somos tão boas. Mas somos nós mesmas):
O vento fazia esfriar diferente de outras formas de ventos de outros lugares. Não era fio, era todo e profundo e eu queria sentir até não poder mais. Do amarelo, só se percebia alguma luz e o azul claro do céu. Eu permanecia no superficial. Ou seria o contrário? Fui tão a fundo que não encontrei nada e pude respirar por mim?
O silêncio interior se expandia, mas não acompanhava a desnecessária chuva de palavras que minha boca insistia em derramar - tão significativas que mal lembro delas. Outro pedaço cômico. Mas sei, de certa forma, que, se assim não fosse, se não falasse algo, qualquer coisa, não experimentaria o não sentir, o não pensar. Ainda não existo, nem por um momento, sem palavras - em silêncio completo. E também não podia existir nada daquilo.
Só cheguei aos pensamentos reais das palavras de sempre, depois, quando fui praticamente obrigada a me entregar à necessidade de dormir.